Este é um mês agitado para Sabrina Parlatore. Ativista em campanhas de prevenção e informação sobre câncer de mama, ela é figura requisitadíssima nos eventos relacionados ao Outubro Rosa. "Sou convidada tanto para dar o meu depoimento como ex-paciente de câncer de mama quanto para apresentar, como mestre de cerimônias", diz.
Em 2015, aos 40 anos, a apresentadora e cantora descobriu um tumor maligno no seio. Encarou cirurgia e uma batelada de sessões de radio e quimioterapia. Já durante aquele período, percebeu a importância do compartilhamento de experiências. "Comecei a conversar com outras mulheres que estavam passando pelo mesmo que eu e vi que conseguia ajudar e era ajudada. Não me sentia sozinha", afirma ela que foi convidada para ser uma das madrinhas do Prêmio Inspiradoras 2022, na causa dedicada ao câncer de mama.
Livre da doença há sete anos, Sabrina ainda convive com as repercussões em seu corpo e mente: a menopausa precoce, os exames frequentes e o medo de uma recidiva. Na entrevista a seguir, ela conta sobre sua rotina de cuidados.
UNIVERSA: Sabrina, você recebeu o diagnóstico de câncer de mama em 2015, aos 40 anos. Como foi esse momento? Eu senti uma bolinha na parte superior do meu seio. No dia seguinte, fui ao médico e ele ficou preocupado. Em dois dias, eu fiz todos os exames, mamografia, ultrassom e biópsia. Ao receber esse diagnóstico, é preciso um tempo para assimilar as informações. Mas pelo tamanho do nódulo, o médico me tranquilizou dizendo que estava em estágio inicial - em pacientes com tumores de até um centímetro, as chances de cura chegam a 95%. Em menos de um mês, fiz a cirurgia que tirou um quadrante da mama esquerda. Foi feita uma incisão na aréola. Psicologicamente falando, isso foi muito bom, me deu a sensação de que aquele tumor não estava mais em mim. Só que isso não significou um tratamento mais leve. Fiz 16 sessões de quimioterapia seguidas de 33 de radioterapia. O subtipo de câncer que tive, triplo-negativo, é bastante agressivo - nele, as células cancerígenas crescem e se multiplicam rapidamente, com maior chance de surgirem metástases - por isso, tive de fazer esse tratamento de forma preventiva.
Qual foi o momento mais difícil? Foi o final da quimioterapia. Eu já me sentia mais cansada, esgotada. O corpo estava baqueado. Além disso, fiquei mais sensível. Depois veio a radioterapia, só que foi mais tranquilo. Já se passaram sete anos e depois de cinco tem esse papo de alta, mas sempre escuto minha oncologista dizer que não é bem assim, não é algo tão matemático. No caso do triplo negativo, a recidiva costuma aparecer nos três primeiros anos. Passado mais tempo, é menos provável. Então, meu prognóstico é bom. Faço periodicamente os exames preventivos, não só da mama, mas cuido da saúde como um todo.
Sabemos da importância do diagnóstico precoce. E no seu caso, você fez corretamente os exames de rotina, mas em 2014, um deles indicou que era preciso uma biópsia da mama, algo que não foi considerado pelo médico. Como isso impactou no seu tratamento? Isso aconteceu menos de um ano antes de eu sentir o caroço que, nesse período, dobrou de tamanho. Em 2014, não apareceu nada na mamografia, mas o ultrassom indicou essa necessidade de investigar com uma biópsia, mas o ginecologista que me atendia na época não deu importância. Já me deparei com muitos depoimentos de mulheres que passaram pelo mesmo. Infelizmente, a gente encontra profissionais de saúde com essa conduta, que deixam passar algo tão sério. No meu caso, era um tumor maligno. Por sorte, ainda consegui ver a tempo e isso só reforça a necessidade de atenção com o diagnóstico precoce.
Ao receber o diagnóstico, em 2015, você não falou sobre isso publicamente. Somente em junho de 2016, quando terminou o tratamento. Por quê? Na época do tratamento, eu não tinha noção do que falar para ajudar alguém. Além disso, não tinha um entendimento total do que estava acontecendo comigo. Só que durante o tratamento, percebi a importância de compartilhar experiências. Comecei a conversar com outras mulheres que estavam passando pelo mesmo problema e vi que conseguia ajudar e era ajudada. Não me sentia sozinha. Entendi, então, que por ser uma pessoa conhecida, posso ser uma voz importante no combate ao câncer de mama. Amadureci essa ideia e depois resolvi falar. Não imaginava nem que fosse dessa forma, que tanta gente passasse por isso e precisasse de informação, de alguém com quem dividir. Hoje em dia, o ativismo pelo combate ao câncer de mama se tornou uma coisa muito grande na minha vida. Tenho satisfação de trabalhar em prol de uma causa tão nobre. Eu descobri a importância de dividir uma história como essa. Sempre vem recebo mensagens de outras mulheres dizendo que me veem como uma luz por estar bem e ter resgatado a minha saúde. A gente se transforma durante o tratamento e é uma transformação brutal, que mexe com a autoestima.
E agora você participa ativamente em campanhas de combate ao câncer de mama, especialmente no Outubro Rosa. Sim, este mês a agenda está cheia por causa do Outubro Rosa e tem de tudo um pouco. Como os eventos presenciais voltaram com tudo nesse pós-pandemia, sou convidada tanto para dar o meu depoimento como ex-paciente de câncer de mama quanto para apresentar, como mestre de cerimônias. E também tem algumas lives, especialmente de empresas que querem chegar a pessoas de vários lugares do país. Tem ainda ações em redes sociais.
O que mais afetou você? A menopausa é algo muito difícil. O tratamento do câncer de mama afeta diretamente os ovários, o que pode levar a uma menopausa precoce. Se a mulher é mais jovem, o organismo pode voltar a funcionar normalmente. Voltei a menstruar depois de três anos, mas de forma irregular. Há dois anos, entrei de vez na menopausa e é preciso aprender a lidar com a menopausa precoce. Há muita controvérsia sobre reposição hormonal, mas quem passou pelo câncer não pode fazer. Tenho de lidar com aumento de peso, insônia, calores, falta de libido, secura vaginal, uma série de fatores. O jeito é ir manobrando, tentando resolver de forma natural. Mas é bem difícil e ainda estou nesse processo de descobrir os caminhos para contornar esses sintomas todos.
Tem algo que você fez durante o tratamento e que, olhando pelo retrovisor, teria feito diferente? Eu teria feito acupuntura. Descobri os benefícios dessa prática quando já estava no final do tratamento. Eu estava exausta e melhorei muito. Cheguei a pensar por que não estava fazendo desde o começo. Acredito nas terapias alternativas, na medicina oriental, integradas à tradicional. Elas ajudam a equilibrar o organismo como um todo.
Já são sete anos livre da doença, mas em algum momento você ainda sente medo e o que faz para se livrar dele? Claro que às vezes a gente sente medo. Converso com outras ex-pacientes e percebo que todas têm medo de ter a doença de novo. Ao fazer os exames de rotina, fico preocupada. É algo tenso. Mas há muitas mulheres que passaram pelo câncer de mama há anos e nunca mais tiveram nada, especialmente aquelas que tiveram um diagnóstico precoce - por isso, temos de bater tanto nessa tecla. O que eu faço com o medo é encará-lo. Tento administrá-lo para que não se torne algo maior do que é. O jeito é respirar fundo e fazer os exames. Afinal, a vida está aí para a gente viver e ser feliz.
Pouco antes de receber o diagnóstico de câncer, você tinha começado sua trajetória na música. Como foi que aconteceu? É curioso porque segui como apresentadora por bastante tempo, o trabalho foi me levando sem eu nem mesmo saber se era aquilo que eu queria. O bom é que ao longo da vida a gente se renova, descobre outras atividades. A música tem a ver com isso, eu descobri que é algo que eu gosto muito e os amigos me incentivaram bastante. Rodrigo Rodrigues (comandou o programa Vitrine, da TV Cultura, ao lado da apresentadora, entre 2006 e 2011, e faleceu de covid-19 em julho de 2020), foi um dos meus principais incentivadores. Ele dizia: Parlatore, você tem que cantar, fazer show? Eu respondia que tinha medo e inclusive não queria divulgar o primeiro show que ia fazer, em setembro de 2014, no bar do Edifício Itália, em São Paulo. Eu tinha medo e o Rodrigo falava: no primeiro, vai ter um monte de problema, mas você tem que divulgar? Fiz, então, esse primeiro pocket show e, com o boca a boca, vieram outros shows. Mas oito meses depois, veio o diagnóstico e eu parei tudo.
A sua volta aos poucos - e à TV - foi no PopStar, da Globo, em 2017? Você chegou à final da competição. Exatamente e foi meu primeiro grande trabalho no audiovisual depois do tratamento. Foi demais! Era a primeira edição do programa, uma ideia sensacional, e para mim era um grande desafio, pois estava começando a cantar, a me soltar no palco. Além disso, era ao vivo e com uma audiência enorme. Foi, sem dúvida, uma das melhores experiências da minha vida em TV. Pena que foi rápido!
A música continua nos seus planos para o presente e o futuro? Sim, é algo que gosto muito e que preciso investir cada vez mais. Sinto que minha voz está melhor, me sinto mais segura. A música está cada vez mais no meu caminho. Recentemente, fiz show ao lado das cantoras Márcia Tauil e Ana Lélia, em São Paulo e em Brasília. Fazia tempo que não me apresentava ao vivo e foi muito gostoso receber o feedback do público. E tem uma novidade vindo por aí. Eu gravei uma participação em um disco todo dedicado a Chet Baker. É um disco só com vozes femininas e eu amei porque sou grande fã dele. Agora é esperar o disco ficar pronto, um trabalho que deve render bons frutos.
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