O Dia Mundial do Rock é comemorado em 13 de julho, mas engana-se quem pensa que tal data se refere a um marco sobre nascimento do gênero, o aniversário de algum criador ou alguma criadora do estilo, o lançamento de um disco ou canção ou coisa assim: o marco a que o dia se refere foi, na verdade, um show, o lendário Live Aid, realizado há exatos 36 anos, em 1985.
Tudo começou a partir do gigante evento beneficente, mas não somente: o estabelecimento da efeméride foi uma sugestão de ninguém menos que o baterista e compositor Phil Collins.
Mas o que foi, afinal, o Live Aid, e como esse dia passou a comemorar por aqui o mais popular e influente gênero musical surgido no último século? Quem organizou o concerto foi o músico irlandês Bob Geldof, da banda Boomtown Rats, mas que antes de se tornar célebre como humanista, ativista e nome por trás do show havia ficado famoso em 1982 interpretando o papel principal no fime The Wall, leitura cinematográfica dirigida por Alan Parker sobre o clássico disco do Pink Floyd.
Um ano antes do lendário show beneficente, Geldof já havia composto e lançado o single “Do The Know It’s Christimas?”, em 1984, a fim de levantar fundos para combater a fome na Etiópia. O compacto se tornaria um dos mais vendidos na história do Reino Unido, arrecadando mais de 8 milhões de libras, ou cerca de 57 milhões de reais atualmente.
O êxito da iniciativa inspirou Geldof e o músico Midge Ure a organizarem um show beneficente pela mesma causa, mas não somente uma sucessão de artistas em um palco diante de uma plateia: o Live Aid foi um megaevento internacional simultâneo, ocorrido ao mesmo tempo no estádio de Wembley, em Londres, e no estádio John F. Kennedy, na Filadélfia, nos EUA – e transmitido ao vivo para 100 países em um publico estimado de 2 bilhões de pessoas diante das TVs, em uma das maiores transmissões via satéite ao vivo de todos os tempos.
O evento ao todo teve 16 horas de duração e, para além dos espectadores espalhados pelo mundo, reuniu 82 mil pessoas na plateia em Londres, e 99 mil na Filadélfia.
Concerto para Bangladesh
O Live Aid não foi o primeiro grande show beneficente da história do rock, título merecidamente dado ao visionário Concert for Bangladesh, organizado pelo beatleGeorge Harrison junto do músico indiano Ravi Shankar em duas noites no Madison Square Garden, em Nova York, em 1971 – reunindo nomes como Ringo Starr, Bob Dylan, Eric Clapton, Billy Preston Leon Russell, Badfinger, além do próprio Harrison e Ravi Shankar, para arrecadar fundos e atenção internacional pelos refugiados dos conflitos em Bangladesh.
O evento de Geldof se inspirou no show feito por Harrison, mas ampliar a dimensão ao máximo: o Live Aid foi até ali a maior reunião de grandes artistas em todos os tempos, e o mais bem-sucedido show beneficente da história.
Curiosamente, o próprio George Harrison não participou, mas seu ex-companheiro de banda, Paul McCartney, estava no palco em Londres – e foram tantos os grandes nomes a se apresentarem no dia 13 de julho de 1985 tanto na Inglaterra quanto em Londres que é até difícil listar todos.
Em Wembley, entre muitos outros, tocaram Style Council, Elvis Costello, Sade, Sting, Phil Collins, U2, Dire Straits, Queen, David Bowie, The Who, Elton John, Paul McCartney e a Band Aid, banda que gravou “Do The Know It’s Christimas?”, liderada por Geldof. Na Filadélfia se apresentaram Joan Baez, The Four Tops, B. B. King, Black Sabbath, Run-DMC, REO Speedwagon, Crosby, Stills e Nash, Judas Priest, Bryan Adams, Beach Boys, Simple Minds, Mick Jagger, The Pretenders, Santana, Pat Metheny, Kool & The Gang, Madonna, Tom Petty, The Cars, Neil Young, Eric Clapton. Led Zeppelin, Duran Duran, Bob Dylan e a lista poderia seguir.
A estimativa era de que o evento arrecadasse 1 milhão de libras, mas o resultado final superou em muito o primeiro cálculo: segundo consta, foram mais de 150 milhões de libras no total, valor que hoje supera 1 bilhão de reais – por seu trabalho humanitário, Bob Geldof viria a ser condecorado com o título de Cavaleiro do Império Britânico.
O uso da música como veículo de conscientização e arrecadação de fundos para causas seguiria como seu trabalho fundamental: em 2005 ele também organizaria, entre outros eventos, o Live 8, evento semelhante, para fundos pela África, ocorrido no mundo todo.
Sugestão de Phil Collins
A ideia de tornar o 13 de julho em Dia Mundial do Rock veio de Phil Collins, como uma forma de imortalizar a dimensão e o êxito do evento realizado em 1985 – a partir de 1987 a sugestão foi tornada em celebração oficial.
Curiosamente, porém, apesar da alcunha de “mundial” incluída no título, essa data é celebrada particularmente – e quase que somente – no Brasil, a partir principalmente de campanha das rádios 89 FM e 97 Fm de São Paulo: no resto do mundo a sugestão não ganhou fôlego e não é celebrada, e nos EUA o Dia de Rock é comemorado em 9 de julho, data da estreia do American Bandstand, lendário programa de TV que ajudou a popularizar o estilo – mesmo essa data não é especialmente popular por lá.
Seja como for, o fato é que a causa defendida pelo Live Aid era de fato nobre, e evento em si foi realmente incrível. Talvez a forma mais contundente, porém, de justificar a celebração de tal data em relação com o rock seja não tanto o concerto como um todo, mas sim um show em específico: a apresentação do Queen no estádio de Wembley foi um verdadeiro feito, um acontecimento artístico, um exemplo tão grande de qualidade, domínio de palco, carisma, relação com o público e espetáculo realizado pela banda e em especial por Freddie Mercury que, para muitos, essa apresentação de pouco mais de 21 minutos foi o melhor show de rock em todos os tempos.
A banda abre com trecho de “Bohemian Rhapsody”, e segue com “Radio Ga Ga”, “Hammer to Fall”, “Crazy Little Thing Called Love”, “We Will Rock You” e “We Are The Champions”, em uma apresentação que entrou para a história, e até hoje explica o impacto de Mercury e da banda de modo geral – e causa calafrios em quem vê.
O Live Aid como um todo é o motivador para que o 13 de julho seja reconhecido como o Dia Mundial do Rock, mas ainda que a maioria dos fãs do gênero não embarque em tal comemoração oficial, lembrar da causa que motivou a realização é um bom motivo para celebrar a data.
De todo modo, os tantos shows incríveis realizados no dia, e o show do Queen como a maior apresentação ao vivo de uma banda de rock em todos os tempos, são excelentes motivos (e trilhas sonoras) para celebrar o gênero criado nos anos 1950 por artistas negros dos EUA e que se tornaria uma das maiores revoluções culturais da história.
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